Museu de Comida Nojenta abre no final de outubro!









O Disgusting Food Museum reúne cerca de 80 pratos e ingredientes "nojentos" de várias locais do planeta e a maioria até podem ser provados. Os produtos portugueses estão ausentes...
Quando o tema de conversa é comida, o desfecho pode seguir um de dois caminhos, ou a água cresce na boca, ou a expressão facial é contraída, como que em recusa, e, por norma, ouve-se um “eh que nojo”. Como já é hábito, o Boa Cama Boa Mesa gosta muito mais de escrever (e falar) sobre pratos deliciosos. Mas desta vez, a ideia é mesmo soltar a repulsa, já que o assunto é o Disgusting Food Museum (Museu de Comida Nojenta). Antes de mais, celebremos a ausência de pratos portugueses no museu mais repugnante do mundo e voltemo-nos, já sem medo do julgamento, para a lista de produtos, que prometem garantir a diversão desta exposição. Para além de momentos animados, há mensagens para descobrir nas montras desta exposição, que inaugura o museu no último dia de outubro.
O Disgusting Food Museum é sueco e localiza-se numa pequena cidade, a sul do país, chamada Malmö. No total, a exposição conta com cerca de 80 peças, na maioria comestíveis, salvo algumas exceções onde, por diversas razões, é necessário apresentar réplicas ou vídeos dos alimentos. No museu “os visitantes podem cheirar e provar delícias de todo o mundo”.
Para fazer parte desta mostra, os critérios de seleção são bastante simples. Primeiro, “a comida deve ser algo que seja consumido no quotidiano, ou que tenha um significado histórico forte, em algum lugar do planeta”. Segundo, “todos os pratos devem ser considerados nojentos por um grande número de pessoas”. Terceiro e último, todas as receitas devem ser interessantes ou engraçadas, quer pelo aspeto, pelos ingredientes ou até pelo nome.
Entre os pratos disponíveis no museu, há iguarias como Fruit Bat, que é uma espécie de morcego frugívoro, ou Kopi Luwak, considerado um dos cafés mais caro do mundo, os grãos são extraídos das fezes da civeta, um mamífero carnívoro com cerca de 90 centímetros de comprimento. Andreas Ahrens, o diretor do museu, revela que a sua peça favorita é Balut, fetos de pato parcialmente desenvolvidos cozidos dentro do ovo e comidos diretamente da casca. Já o curador desta exposição, Samuel West, elege Icelandic Shark como a peça preferida, pelo “cheiro indescritivelmente desagradável”.
Mas se pensa que só estão presentes pratos atípicos nesta exposição, está enganado. Uma das peças é o Porco, pelos medicamentos utilizados na indústria da suinicultura, ou a Root Beer, uma bebida americana composta por diversos ingredientes químicos. Samuel West explica que a sensação de nojo “é uma das seis emoções fundamentais do ser humano e é universal a todas as culturas.” É uma espécie de função que o Homem tem para se proteger e evitar doenças ou alimentos que prejudicam a saúde. No entanto, o curador do Disgusting Food Museum refere ainda que a noção de repulsa se altera de acordo com o local onde vivemos, bem como a época. Por exemplo, “há duzentos anos a lagosta era tão indesejável que só era utilizada para alimentar os prisioneiros e os escravos. Hoje a lagosta é um produto de luxo adorado pela maioria.”
A exposição pode proporcionar momentos bastante animados, mas esta ideia nasceu de um propósito maior. O curador Samuel West conta que a produção de carne é atualmente insustentável em termos ambientais e é urgente considerar alternativas para este produto. No entanto, “muitas pessoas ficam enojadas com a ideia de comer insetos e céticos sobre a carne cultivada em laboratório, tudo se resume ao nojo. E se pudéssemos mudar as nossas noções sobre a comida que é repugnante ou não... Isso poderia ajudar-nos na transição para fontes de proteína mais sustentáveis.”
Posto isto, o diretor do museu, Andreas Ahrens, explica que a repulsa é cultural, já que as pessoas gostam daquilo que estão habituadas a comer, ou das práticas gastronómicas com que cresceram. No Ocidente, comer insetos é repugnante para a grande maioria. No entanto, este é um produto que tem vindo a ser cada vez mais comercializado para esta região do planeta. Alguns chefes já utilizam alguns insetos na cozinha. O contacto com estes pratos leva a uma desconstrução do nojo e, consequentemente, à redução desta sensação, de um modo generalizado. Que pode muito bem facilitar a alteração de práticas alimentares no dia-a-dia.
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